ARBEX, Daniela. Cova 312. São Paulo: Geração Editorial, 2015.
Por Fábio Liberato de Faria Tavares
O livro da bem sucedida jornalista (autora do livro Holocausto Brasileiro sobre o manicômio de Barbacena-MG) trata do covarde assassinato do guerrilheiro gaúcho Milton Soares de Castro na penitenciária de Linhares em Juiz de Fora-MG no ano de 1967, período em que a linha dura da ditadura militar começava a ganhar força. A obra é uma continuidade de matéria do jornal juiz-forano Tribuna de Minas realizada em 2002.
A Guerrilha do Caparaó começou a ser arquitetada em 1966 pelo Movimento Nacionalista Revolucionário, grupo com grande influência do ex-governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola que naquele momento se encontrava exilado, mas também contou com a participação de outros grupos como Frente Armada Revolucionária Popular. Milton era o único civil do grupo que iniciou as operações na região do Caparaó no início do ano de 1967. O frio da região somado à falta de alimentos fez com que o deslocamento de guerrilheiros para as localidades próximas se tornasse constante e despertasse as suspeitas de populares que os denunciaram. Na verdade, a precariedade era tanta no local que alguns guerrilheiros abandonaram a luta antes do dia 1º de abril, quando o grupo caiu.
Os presos foram levados para o presídio de Linhares e os militares tentaram associar um assassinato por eles cometido (o do sargento Manoel Raimundo Soares em Porto Alegre no ano anterior) a Milton e Araken Vaz Galvão. Após ter reagido a ofensas verbais de um oficial, Milton foi assassinado nas dependências do presídio e o caso foi tratado como suicídio, mesmo o morto tendo utilizado uma estrutura de 1,20m para se enforcar, tendo 1,80m de altura, além do fato de que Milton teria usado uma fita de 30 cm para dar fim a sua vida.
A rede de mentiras não parou aí. O médico legista que assinou o seu atestado de óbito sequer estava de plantão no Pronto Socorro de Juiz de Fora no dia do ocorrido. Em entrevista para a jornalista, o neto do médico responsável disse que seu avô foi obrigado a assinar o laudo. O corpo de Milton, simplesmente desapareceu depois de sua morte. Após vasculhar documentações a jornalista descobriu que Milton havia sido enterrado na cova 312 do Cemitério Municipal.
O livro também aborda como era a vida dos outros presos políticos dentro do presídio. Por lá passaram os atuais prefeito de Belo Horizonte e o governador do Estado, Márcio Lacerda e Fernando Pimentel respectivamente. A rotina era de privações, como torturas e até mesmo proibição de contatos físicos com visitantes para que se evitasse o vazamento de casos de tortura.
A obra se torna um importante instrumento de denúncia contra o regime militar brasileiro. Esta missão é ainda mais importante num momento em que grupos neofascistas tem ido para as ruas das cidades brasileiras clamarem por “intervenção militar” ou da onda de projetos de lei do Escola sem Partido. A baixa consciência política e resultado de uma educação ruim faz com que argumentos mentirosos de que “na ditadura era melhor” possam facilmente conquistar um grande número de adeptos e livros como esse, de fácil leitura e rico em informações pode auxiliar um grande número de pessoas a entender a gravidade deste sombrio período da história brasileira.