Por Shirley M. Cavalcante (SMC)
Nascido em Natal, Francisco Antonio Cavalcanti demonstrou desde cedo gosto pela literatura, no entanto optaria por uma formação acadêmica de caráter eminentemente técnico. É engenheiro, especialista em desenvolvimento, mestre em administração e doutor em engenharia de produção. Profissionalmente, direcionou sua preocupação a duas áreas: planejamento estratégico e gestão de tecnologia.
Docente da Universidade Federal da Paraíba, orientou inúmeros trabalhos acadêmicos nesses domínios do conhecimento e participou de vários projetos de pesquisa com a Universidade de Grenoble, França, além de ter escrito alguns livros técnicos.
Mais recentemente, materializando uma inclinação sentida desde sempre, trouxe a público sua primeira ficção, “O Violoncelo: Uma Trajetória de Acasos e Mistério”, pela Editora Livre Expressão, Rio de Janeiro e, em seguida, um outro romance intitulado “Diário de Bordo: O Legado de Jacques Drouvot”, pela Chiado Editora, Lisboa.
Agora, traz a público pela Drago Editorial, Rio de Janeiro, este rico e vibrante “O Tempo de Tudo”.
Nas palavras da escritora Alexandra almeida, “Entre o corriqueiro, o erudito e o lírico, Francisco Antonio cria um romance formidável em se ler, entreter e ensinar. Como na máxima horaciana do “ensinar deleitando”, sentimos isto no romance deste escritor surpreendente”.
Boa Leitura!
Escritor Francisco Antonio Cavalcanti, para nós é um prazer contar com a sua participação na revista Divulga Escritor. Fale-nos um pouco sobre sua transição da escrita de livros técnicos para a ficção.
Francisco Antonio – Grato pela oportunidade. Bom! Sempre fui um consumidor de livros, tendo desde cedo me encantado com os clássicos da literatura universal. Estou convencido de que essa arte veiculadora das histórias em todos os espaços e tempos é um dos denominadores comuns da experiência humana. Graças a ela é que conseguimos dialogar, independentemente dos nossos desígnios, ocupações ou circunstâncias. Certamente, na condição de leitor é que podemos viver outras experiências e somos capazes de estabelecer um vínculo fraterno com aqueles que produziram literatura em outras latitudes ou em épocas passadas. Já na condição de autor, nos é possível contribuir ao estabelecimento desses vínculos com aqueles que porventura vierem a ler o que produzimos.
Quando me cessaram as obrigações profissionais pela aposentadoria, apesar de continuar com atividades em consultorias, cursos e palestras, senti-me enormemente compelido a dar expansão a uma vontade por muito tempo represada. Os limites, condicionamentos e rigor da produção de caráter técnico-científico, à qual me dedicara até então, sugeriam-me permanentemente a busca de uma alternativa de gênero mais livre à criatividade. Parece que na vida, há um momento certo para tudo, não? Apesar da realização com os trabalhos aos quais me havia dedicado, a sensação que me veio foi a de um grande, mas prazeroso desafio.
Apresente-nos os títulos dos livros técnicos que publicou
Francisco Antonio – Bem! Pela Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, “Tecnologia e Dependência: O Caso do Brasil”. “Planejamento Estratégico Participativo: Concepção, Implementação e Controle de Estratégias” e “”Êxito Profissional: Conhecimentos e Atitudes”, ambos pela Editora Senac-SP.
Vamos ao seu novo romance. Como surgiu inspiração para “O Tempo de Tudo”?
Francisco Antonio – Costumo dizer que o elemento mais definidor da viabilidade da construção de um romance é a motivação que o tema possa imprimir ao autor. Pelo caráter de experimentação de uma nova arquitetura narrativa e de universalidade que essa ficção demandava, senti-me inspirado e, acima disso, motivado a tentar sua formulação, convicto de que como diz o próprio “Eclesiastes”, na vida há um tempo para tudo.
Pode nos apresentar uma sinopse da obra?
Francisco Antonio – Claro! Ao escapar de um audacioso atentado, o jornalista Tércio Gama decide empreender uma narrativa reveladora.
Com o apoio da jovem e gentil filha de uma grande amiga dos seus já falecidos ascendentes, estrutura-se na clandestinidade, mas não consegue livrar-se dos recorrentes sobressaltos.
Em seu relato, dedica-se aos tempos de iniciação profissional, em cujo contexto dera solução a um antigo crime envolto em mistério e torna-se amigo de um dos filhos da vítima, que lhe consegue um emprego em um grande jornal. Tércio veio a se apaixonar por uma bela jornalista de origem libanesa, sobre a qual pesavam rumores que a levaram a grandes conflitos psicológicos.
Por esse tempo, episódios que atraíram sua disposição investigativa conduziram-no a estender suas preocupações a uma série de fatos imbricados. O surgimento de uma tela que faz homenagem a um aeronauta brasileiro morto em Paris em 1902 na queda de um dirigível, exposições e leilões de arte, falsificações, entre outros eventos, viriam colocá-lo ao corrente de uma intrincada teia tecida por rixas, traições e desonestidades de toda ordem.
Em meio a esses fatos, o assassinato do seu amigo e benfeitor levou-o a concentrar-se na busca incessante do desvendamento do novo e tão enigmático crime. Em razão de suas investigações, Tércio entrou na alça de mira de poderosos, transformando-se em alvo do já referido atentado.
Durante a clandestinidade, produz sua narrativa e aos poucos sente que sua antiga paixão tende a atenuar-se.
Envolvendo-se com a jovem que tanto o apoia, termina por enredar-se em um novo amor e é levado a refletir sobre as distintas e clássicas manifestações desse nobre sentimento, que escolhe seu tempo e propósito para acontecer.
Quais os principais desafios para construção do enredo que compõe a trama?
Francisco Antonio – Em minhas ficções, os maiores desafios tem relação com as pesquisas a que sou obrigado, pelos sempre presentes aspectos históricos, geográficos, artístico-culturais e técnico-científicos explorados. Este “O Tempo de Tudo” não foi diferente. Ocupei-me com muita pesquisa e isto, certamente, foi o mais difícil. O que devo acrescentar é que essa ocupação é uma atividade extremamente prazerosa, tanto quanto a de criação.
Qual o cenário, espaço geográfico escolhido para a obra?
Francisco Antonio – A trama se desenrola em mais de uma cidade do Nordeste do Brasil e no Rio de Janeiro, mas há incursões na Inglaterra, França e Líbano.
Em sua opinião, o que justifica a publicação de “O tempo de Tudo”?
Francisco Antonio:
Duas ordens de razões, creio, justificaram sua publicação:
Atende a um numeroso público que se ++deleita com história, lugares interessantes e manifestações culturais, desenvolvendo-se a trama em uma atmosfera de mistério que, como observou lisonjeiramente o prof. Neroaldo Pontes, magnetiza o leitor e o compele à busca pelo desfecho, reservando-lhe um emocionante epílogo.
Os eventos têm lugar no Brasil, França, Inglaterra e Líbano em diferentes tempos históricos, o que confere à obra um caráter de universalidade que interessa a muitos leitores e se soma a outros esforços no sentido da extinção de preconceitos literários isolacionistas, que não obstante o amálgama promovido pelas comunicações informatizadas, ainda permanecem carentes de contribuições.
Qual o ou os momentos que mais o marcaram enquanto escrevia o livro?
Francisco Antonio – Posso dizer que foram aqueles relacionados com as pesquisas sobre o início dos esforços do homem para voar, principalmente com as extraordinárias contribuições do norteriograndense Augusto Severo com o seu dirigível Pax em Paris no início do século passado. Outro momento importante foi assistir a um leilão de arte em Londres por necessidade de um relato. Há passagens também , posso dizer, marcantes, a exemplo dos encontros do protagonista principal, e narrador, com seus dois grandes amores, evidentemente, cada um a seu tempo.
Conte-nos sobre o lançamento.
Francisco Antonio – Bem, o lançamento dar-se-á nas instalações da Fundação Casa de José Américo, na Av. Cabo Branco, 3336, João Pessoa, PB, às 19h00do próximo dia 05 de setembro quinta-feira.
O livro, para minha honra e orgulho, será apresentado pela escritora Neide Medeiros.
Quem não puder comparecer ao evento de lançamento, onde poderá comprar o livro?
Na livraria da Drago
Além de “O Tempo de Tudo” Você tem mais dois romances de sucesso. Pode nos apresentar essas obras?
Francisco Antonio – – Naturalmente! Antes de tudo, muito grato. A inspiração para “O Violoncelo” veio de uma informação sobre o achado de um instrumento, possivelmente valioso, como peça de decoração em uma casa comercial. Sabemos que esses achados fazem parte do imaginário de muitos músicos dessa família de instrumentos que, interessantemente, não se modificaram desde o século XVII. O músico norte-americano que o encontrou conseguiu restaurá-lo, mas não foi capaz de identificar sua origem. Essa história me seduziu e resolvi desenvolver um “thriller” com jeito de romance que fosse às últimas consequências, isto é, que identificasse o autor e o itinerário do instrumento. O final é surpreendente e espero que possa emocionar a todos quantos venham a lê-lo.
Já “Diário de Bordo”, poderia resumí-lo dizendo que em finais do século XVIII, as Cartas de Corso autorizando a pilhagem de naus portuguesas eram prodigamente expedidas pelo governo francês. Um desses corsários, ao abordar uma nau oriunda do Rio de Janeiro, depara-se com um enorme contrabando de ouro e gemas de alto valor. Apossando-se da preciosa carga, resolve, por motivos particulares, não levá-la a seu país, encontrando uma maneira de escondê-la com vistas a posterior resgate. O diário de bordo é utilizado como meio de cifragem para orientação a seus descendentes, em caso de não conseguir fazer o que pretendia. Muitas gerações iriam enfrentar o desafio imposto por essa decifração. Impressionado com o documento histórico que lhe chega às mãos, e com o possível tesouro que lhe estaria reservado, um dos pretensos herdeiros, nascido no Brasil, resolve dar solução ao enigma. A história é narrada a partir de fatos recentes que deflagram todo o processo de descortino do passado. Pesquisas, decifrações, contingências, aventuras, paixões, traições e crimes acontecem durante o desenrolar da trama, que culmina com um final surpreendente e que, espero, possa emocionar o leitor.
Onde podemos comprar esses livros
Diário de Bordo, por meio da Livraria Travessa:
“O Violoncelo” está esgotado, aguardando nova edição.
Antes de encerrarmos, gostaria que nos falasse um pouco de como é a vida de um escritor que perdeu a visão, como é o seu caso.
Francisco Antonio – Ah! Agradeço pela oportunidade. Meu primeiro livro, escrevi-o ainda com visão. Com a perda, por problemas de retina, fui obrigado a enfrentar as óbvias dificuldades de quem não enxerga e tem como principais atividades a docência e a pesquisa. Foi um período de difícil adaptação, mas contei com o inestimável apoio de minha mulher, dos meus filhos e, claro, de colegas e alunos, aos quais sou imensa e eternamente grato. Durante muito tempo redigi relatórios de pesquisas e artigos técnico-científicos, ditando-os para alguém. Meu segundo livro é resultado de textos redigidos para suporte didático, que posteriormente foram consolidados no marco de uma única temática. A partir daí, a tecnologia da informação me foi e continua sendo de enorme ajuda, seja pela disponibilização de livros gravados, digitalizados ou pelos sistemas ultra-desenvolvidos de leitura de tela. Esses sistemas nos possibilitam elevada desenvoltura no uso do computador. Meu terceiro livro, uma obra de auto-ajuda, já foi redigido de maneira completamente independente. Aqui, acho que cabe uma observação. Acredito que depois dessa experiência, não teria partido para a literatura ficcional se não fosse a ajuda da tecnologia. Entendo que os textos mais intimistas, que por vezes surgem sob alguma carga emocional ou que revelam o sentimento de personagens, são dificilmente formuláveis fora do isolamento criativo. Pelo menos para mim, é imprescindível estar só. Talvez essa tenha sido a razão do surgimento de “O Violoncelo”, de “Diário de Bordo”e, mais recentemente, de “”O Tempo de Tudo””.
Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer um pouco mais o Escritor Francisco Antonio Cavalcanti. Que mensagem você deixa para nossos leitores?
Francisco Antonio – Bom! A responsabilidade é grande, não? Eu diria que, apesar de a vida parecer um infindável processo de renúncia aos nossos ideais, vale a pena sonhar. Estou certo de que é exatamente no sonho onde se encontra a motivação fundamental para a busca dos meios à sua realização. Esses meios implicam, invariavelmente, em novos aprendizados que viabilizem o alcance dos nossos objetivos. Desistir de aprender é, seguramente, uma boa maneira de desistir da própria vida. Acredito que é imperioso compreender que quando abrimos mão de sonhar, para dizer o mínimo, a vida pode transformar-se em um cotidiano monótono, repetitivo e tedioso.
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