Entrevista - Do Protofeminismo aos desafios Feministas contemporâneos no Brasil

26/06/2023 14:50

 

"Do Protofeminismo aos desafios Feministas contemporâneos no Brasil"

 

Entrevistada Profa. Dra. Edna Alves de Souza

                                                                                                                                          Por Fábio Antônio Gabriel

 

Nesta entrevista concedida à Fábio Antônio Gabriel (www.fabioantoniogabriel.com), a professora Edna Alves de Souza dialoga com os leitores desta revista sobre diversos temas entre os quais as questões da relação entre filosofia e feminismo. Ela é doutora em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). Graduada e Mestre em Filosofia pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP/Marília). Realizou Pesquisa de Pós-Doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP/Marília), na área de Filosofia da Ciência e da Tecnologia, com o apoio financeiro da CAPES. Atualmente, é professora do magistério superior na Universidade Federal do Acre (UFAC). Tem experiência didática na área de Filosofia e Ciências Sociais, ministrando disciplinas como Filosofia da Ciência, Filosofia das Ciências Humanas, Filosofia da Linguagem, Metodologia da Pesquisa, Filosofia da Ação e Filosofias Feministas. Dentre os temas abordados em sua pesquisa, destacam-se os seguintes: realismo e antirrealismo científicos, racionalidade, argumento do milagre, epistemologia feminista, complexidade, informação e big data. E-mail: edna.souza@ufac.br

 

 

Desenvolveste pesquisa de doutorado em Filosofia na USP, poderia nos falar sobre a sua pesquisa e os resultados a que chegou em sua tese intitulada "Um estudo do argumento do milagre na defesa do realismo científico"?

Dra. Edna Souza - Foi um momento muito especial de minha formação intelectual e profissional: momento de firmar a minha autonomia enquanto pesquisadora e de consolidar as bases necessárias à docência universitária. Eu empreendia acompanhar os debates atuais da filosofia da ciência em torno do realismo científico, visando a um posicionamento próprio e à propositura de alguma contribuição original, enquanto, paralelamente, também me debruçava no estudo dos grandes clássicos para obter uma visão mais ampla da área. O desenvolvimento de uma pesquisa de doutorado vai muito além da elaboração da tese, da composição textual a ser apresentada para a obtenção do título. Desenvolver uma tese em filosofia é, em alguma medida, enxergar melhor a si própria e a filosofia, estabelecendo, mesmo que provisoriamente (já que a busca filosófica é incessante), o seu lugar no universo filosófico. E eu me encontrei herdeira da defesa da tradição realista na filosofia da ciência. Em dezembro de 2014 defendi a tese intitulada Um estudo do argumento do milagre na defesa do realismo científico. Argumentei nessa tese a favor da intuição básica do realismo científico, com o apoio de uma versão fortalecida e articulada do argumento do milagre. O realismo científico é uma concepção filosófica da ciência que assume uma atitude epistêmica otimista frente aos resultados da investigação científica que abrangem aspectos do mundo tanto observáveis como inobserváveis. Segundo o realismo científico, as entidades inobserváveis postuladas pelas teorias científicas bem-sucedidas têm existência real e essas teorias são verdadeiras ou aproximadamente verdadeiras. Essa atitude positiva é contestada por diversas perspectivas filosóficas conhecidas coletivamente como formas de antirrealismo científico (positivismo lógico, instrumentalismo, empirismo construtivo, historicismo, construtivismo social etc.). É importante notar que o realismo científico admite o falibilismo e, além disso, reconhece que a condução inicial de uma investigação científica pode até ser explicada em termos de fatores psicológicos de seu pesquisador ou do ambiente sociocultural no qual ele se encontra; no entanto, sua validação, ou seja, o seu valor epistemológico é aferido por critérios lógico-racionais e empíricos, os quais não dependem do contexto psico-sócio-cultural. Procurei também analisar e rebater três importantes modalidades de argumentação antirrealista: a subdeterminação empírica das teorias, a indução pessimista e a circularidade viciosa da inferência da melhor explicação. Não obstante as diferenças que se mantêm entre as concepções realistas da ciência, o chamado “argumento do milagre” constitui uma peça central na defesa delas. Esse argumento se expressa, inicialmente, na célebre formulação de Putnam (1975, p. 73), “[...] o realismo [científico] é a única filosofia que não faz do sucesso da ciência um milagre”. Para o realista científico, a ciência é bem-sucedida em explicar e prever fenômenos, inclusive novos, porque suas melhores teorias (maduras, não ad hoc, bem-sucedidas empírica e instrumentalmente, provedora de previsões novas, fecundas etc.) são (parcial ou aproximadamente) verdadeiras e as entidades inobserváveis postuladas por essas teorias realmente existem. Outros esquemas de explicação para o êxito científico baseados em visões antirrealistas ou não-realistas da ciência são insatisfatórios. Apresentei diversas formas de fortalecer o argumento do milagre mediante as qualificações de novidade preditiva e fecundidade teórica, e concluí que essa versão fortalecida do argumento continua sendo basilar e estratégica na defesa do realismo científico, devido a sua demonstração contundente de que essa (o realismo científico) é a concepção filosófica mais razoável sobre o estatuto cognitivo das teorias científicas.

 

A filosofia tem ganho presença de filósofas, poderia nos falar sobre como é ser filósofa no Brasil?

Dra. Edna Souza - Ser filósofa no Brasil é um grande desafio. Há pelo menos duas grandes barreiras a serem vencidas: (1) a profissionalização em uma área precarizada e pouco valorizada; (2) a socialização de gênero que a torna, tacitamente, uma “profissão masculina”. A afirmação preambular à sua pergunta, faz-me entender que a questão aqui não é tanto sobre a (des)valorização da profissão como o é sobre o gênero, ou seja, sobre a vinculação costumeira de certas profissões a determinados gêneros, de modo que, nesse arranjo social, a filosofia seja protagonizada pelo homem. Por isso, para responder como é ser filósofa no Brasil, focarei em (2), ou seja, no processo de determinação de papeis sociais, que procura atribuir outros papéis à mulher, que não o de ser filósofa.

Não é novidade o fato de a mulher precisar encarar no Brasil (e não somente aqui) os entraves de uma sociedade majoritariamente preconceituosa, que a inferioriza. O machismo, que aqui ainda impera, é a perspectiva de que o sexo masculino é superior ao feminino no que diz respeito aos seus aspectos físicos e intelectuais e, consequentemente, que os direitos de ambos não seriam os mesmos, sendo o homem privilegiado em relação à mulher. A machismo arraigado em nossa cultura dificulta em muito a vida da mulher nos seus mais variados aspectos e âmbitos. No caso da profissional em filosofia, soma-se um preconceito específico da área com o qual é preciso também saber lidar.

Na área acadêmico-científica, para condicionar a mulher a espaços restritos, não é preciso verbalizar, como muitos homens o fazem descaradamente em sua vida cotidiana, que “lugar de mulher é na cozinha e/ou cuidando de seus filhos”. O sexismo existente nessa área, sutilmente, já discrimina a mulher ao definir o “padrão masculino” como o único adequado àquele meio.

Além da dedicação, naturalmente esperada, ao seu objeto de pesquisa e ao seu trabalho, a estudiosa de filosofia precisa de algo a mais para atingir o menor dos objetivos profissionais: o reconhecimento por seus pares de seu lugar dentro do universo acadêmico-profissional da filosofia. Esse algo a mais a que me refiro é a capacidade de permanecer resiliente e se fazer ver e ouvir em uma estrutura fortemente marcada pelo caro apreço a um tipo pobre de tradicionalismo, que exclui e invisibiliza as mulheres, por considerar, tácita ou explicitamente, que mulher não “pensa”, não é capaz de produzir o tipo de pensamento próprio da filosofia: abstrato, racional... Evidentemente, é preciso muita garra para resistir a esse cenário hostil à mulher. Interessante notar que mesmo conseguindo penetrar nesse espaço restrito, ainda assim, ali há tentativas de colocar a mulher em uma situação inferior, desconsiderando suas proposituras e/ou atribuindo-lhe funções impróprias como “deixar o ambiente mais bonito, confortável e acolhedor” (esse tipo de atribuição muitas vezes vem associado a uma espécie de galanteio esquizofrênico, que só faz sentido a uma mentalidade inerentemente machista). Entenda: não é se negar a contribuir para o bem-estar comum. O caso é que todas e todos são responsáveis por isso, não só a mulher; nem é mais fácil para ela fazê-lo do que o é ao homem.

No entanto, seja nos períodos (e contextos) em que a mulher fora impedida formal e legalmente de participar do mundo intelectual, seja nos momentos (e contextos) de sua expulsão velada pela hostilidade do ambiente que não a acolhe da mesma forma que ao homem, elas sempre existiram e resistiram à opressão, à subjugação. A contribuição da mulher pode ser identificada desde a origem ao desenvolvimento atual da chamada filosofia ocidental. Infelizmente, àquelas que ousaram resistir, restou a censura, a marginalização, a invisibilização e o esquecimento pela narrativa “oficial”. A história oficial nos foi e, ainda, é contada em uma perspectiva masculina, sexista e, não menos importante, se limita à narrativa dos “vencedores”.

É bom e, ao mesmo tempo, espantoso que estejamos hoje passando por um processo de reconsiderarmos a história da filosofia, intencionalmente, para identificarmos a presença ou não de filósofas. E, ao fazê-lo o melhor caminho é resgatar a parte da filosofia marginalizada nessa história, bem como os ecos do pensamento filosófico feminino em outras formas de registros e expressões, como cartas, diários, relatos. Percebemos que muitas pensadoras, dos mais diversos períodos, procuraram deixar sua marca, a despeito de lhes ser negado esse espaço, de suas vozes serem silenciadas, negligenciadas, obscurecidas. Por exemplo, não é preciso ser estudiosa(o) de filosofia para se ter a imagem amplamente difundida de Sócrates como um grande filósofo grego. No entanto, mesmo dentre as comunidades filosóficas, pouco ou nada se conhece e se fala sobre a mestra de Sócrates: Aspásia de Mileto. Justificar que isso se deva ao fato de não termos evidências e dados suficientes de quem de fato foi a mulher que aparece como uma grande pensadora nos escritos dos principais intelectuais de sua época, seja na filosofia, na dramaturgia, na poesia ou na história, é uma falácia inaceitável. Tampouco temos esses mesmos tipos de dados sobre Sócrates, que nada escreveu, e a quem atribuímos o título de pai da filosofia. Esse tipo de invisibilização e a exclusão da mulher na filosofia, infelizmente, não é uma coisa do passado.

Ainda hoje, antes mesmo de nascer, a mulher é “predestinada” culturalmente a desempenhar o papel de cuidadora e não o de pensadora. Quando se diz estar grávida de menina, é comum ouvir, como se fossem as benesses de se ter uma filha, que ela, certamente, ajudará a mãe nas responsabilidades do lar, aos pais na velhice... Daí, mais tarde, as profissões melhor aceitas socialmente para a mulher serem pedagogia, serviço social, enfermagem, fisioterapia, nutrição, pediatria, medicina veterinária... Basta olharmos as estatísticas dos lugares ocupados pela mulher no mundo profissional para constatarmos que “profissão tem gênero” e que no caso da filosofia o gênero é masculino.

Há, ainda, casos mais graves de misoginia, ou seja, de ódio, aversão, desprezo à mulher, principalmente, nos casos em que essa não se encaixa em um modelo criado de mãe e esposa do tipo Amélia.[1] Para alguns filósofos, ver uma mulher filosofando é uma afronta, respondida, comumente, com uma tentativa de desqualificá-la, antes mesmo de rebater a sua proposta. Mas também penso que, graças aos esforços louváveis de muitas mulheres (brasileiras e não-brasileiras), paulatinamente, a filosofia (não sem resistências) tem se aberto ao pensamento filosófico feminino.

O sexismo, machismo e misoginia, em suas versões acadêmicas, parecem ser das mais perigosas, por reverberar em vários níveis da sociedade. Talvez por isso, para mim, a passagem da Epistemologia Tradicional para a Feminista se deu de forma tão natural: tive, e ainda tenho, que lidar com a temática na prática, dia após dia. E, mais importante, o reconhecimento da querelle des femme, ou seja, da questão da mulher e de sua polêmica degradação social, trata-se de uma “questão de fato”, isto é, constitui um fato social e não apenas uma insatisfação subjetiva particular. A filosofia, enquanto atividade crítica, encontra-se bem atrasada em promover com afinco esse debate. Essa contradição salta aos olhos femininos.

Embora, como eu disse acima, sempre houveram filósofas, concordo que a nossa “filosofia tem ganho presença de filósofas” e essa presença tem se feito notar. Além da presença de novas pensadoras, há um esforço conjunto de resgate das filósofas antecedentes. Desde 2015 percebo, com alegria, um movimento crescente do feminismo brasileiro. Em 2016, no XVII Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (ANPOF), realizado em Aracaju-SE, foi instaurado o Grupo de Trabalho “Filosofia e Gênero”. Além disso, tivemos ineditamente um espaço de acolhimento para crianças, de modo a permitir e/ou a facilitar a participação no evento de pesquisadores na condição de mães/pais. Ações que, a meu ver, evidenciam o crescente interesse brasileiro à pesquisa na área de Filosofia Feminista e dos Estudos de Gênero em geral, mesmo no contexto da filosofia que, não obstante tratar-se de uma área de investigação crítica, se vê em muitos casos presa ao tipo de tradicionalismo patriarcal hegemônico já mencionado.

É importante também observar a diferença entre a presença da mulher na filosofia e o feminismo. Uma coisa é ocupação de espaços como o da filosofia, outra é a argumentação a favor da ocupação desses espaços. Não necessariamente as duas coisas andam juntas. Fato é que a filosofia não deveria ter gênero. O gênero é uma construção social que serve apenas a interesses tiranos. Ao passo que a filosofia, desde sua origem, combateu a tirania, advogando a favor da razão. Tendo feito esses esclarecimentos, posso dizer que ser filósofa no Brasil, um país ainda muito marcado pelo preconceito, é desafiador e muito bom, afinal, a filosofia resulta de alguma forma de inquietação. Aqui, temos muito a que nos inquietar ainda!

 

Vivemos no Brasil um clima de negacionismo em algumas esferas. Como você enquanto filósofa entende este fenômeno?

Dra. Edna Souza - Vamos refletir sobre o negacionismo em duas esferas: senso comum e filosofia da ciência. Recentemente a ciência foi alvo de muita discussão, desde aquela relacionada a uma espécie de movimento popular de desconfiança e menoscabo crescente do empreendimento científico ao debate científico-filosófico sobre uma possível crise ou quebra de paradigma científico que sugere uma nova imagem de ciência cada vez mais distante daquela do projeto original.

No primeiro caso, por exemplo, acompanhamos, sobretudo nas redes sociais, a ciência e seus procedimentos serem colocados em dúvida, de modo simplista, pelas pessoas. As pesquisas realizadas nas universidades foram consideradas inconfiáveis por muitos. As vacinas foram contestadas. O aquecimento global foi negado. O terraplanismo foi reapresentado como uma teoria alternativa à vigente. Tudo isso em meio a uma enxurrada de fake news, cujo propósito, comumente, é o da promoção de confusão individual e manipulação da opinião pública.

Entendemos que por detrás da defesa de ideias absurdas pode estar a intenção de se conduzir à aceitação não necessariamente dessas ideias propriamente ditas, mas de outras ideias radicais, que teriam sua aceitação facilitada, por sua radicalidade ter sido “minimizada” em consequência da prévia consideração de absurdidades e devaneios desarrazoados. Uma pessoa que se vê obrigada, por exemplo, a discutir repetidamente a respeito da hipótese terraplanista, provavelmente, não se sentirá tão provocada em sua razoabilidade quando for exposta à discussão de outra tese pseudocientífica, como se sentiu no primeiro caso. Esse é o perigo do hábito: permitir que se familiarize mesmo com disparates, cegando para suas contradições e consequências sociais graves. É assim que absurdos, como o terraplanismo, podem conduzir às visões caricatas da ciência, ao descrédito do empreendimento científico, à rejeição do realismo científico e ao fechamento do indivíduo em posturas acríticas, dogmáticas.

No segundo caso – no que concerne ao debate científico-filosófico sobre uma possível crise ou quebra de paradigma científico –, destacamos a discussão em torno da proposta de um novo construtivismo, um construtivismo dataísta[2]. Tal perspectiva assume que a ciência não está apenas associada à tecnologia, mas que, fundamental e inevitavelmente, se tornou dependente desta. As tecnologias teriam chegado a tal ponto de artificializar ou desnaturalizar aquilo que, tradicionalmente, era entendido como a realidade natural, objeto de conhecimento. Neste processo em curso irreversível de tecnologização da ciência, abandonado o ideal de busca pela explicação do natural, a ciência estaria não só promovendo o desenvolvimento do artificial – entendido como uma instanciação do não-natural –, mas fundando nele as suas bases. Enquanto o naturalismo é uma filosofia que endossa a primazia da ontologia sobre a epistemologia, bem como uma interpretação correspondencial da verdade, o construtivismo endossa uma primazia da epistemologia sobre a ontologia e uma interpretação do conhecimento baseada na construção e na correlação entre dados.

Neste sentido, para Floridi (2017), ou natural é apenas uma maneira minimalista e incontroversa de referir-se aos dados como são em si mesmos, ou o natural, percebido e concebido de maneira rica e multiforme, é uma construção, uma artificialização, um modelo da realidade. Nesta esteira, a própria interpretação naturalista dos fenômenos, fruto da revolução científica moderna, é em si um fenômeno cultural e, portanto, não-naturalista. O não-natural é o que permitiria se criar categorias como a de ‘natural’. Em última análise, o natural seria em si mesmo artefactual: uma construção semântica.

Reconheço, é claro, a aproximação cada vez maior entre ciência e tecnologia, de modo a até falarmos hoje em uma tecnociência. Porém, considero que não seria apropriado, tampouco desejável, confundi-las, nem promover uma artificialização generalizada da ciência e da epistemologia. Contribuições de recursos de análise de Big Data, por exemplo, trazem consigo o risco de se substituir a relação de causalidade (tão cara à filosofia e à prática científica tradicional) por simples correlações entre grande quantidade de dados.

O erro categorial de confundir ‘natural’ e ‘artefactual’, em minha opinião, decorre de uma acepção de ‘dado’ na qual o mesmo não é dado, mas, construído[3]: dados sobre objetos físicos são colocados na mesma categoria dos próprios objetos físicos. O construtivismo dataísta parece se reduzir a um jogo palavras, a uma elaboração semântica que dispensa a aderência da teoria à realidade, como se só o que existisse fosse o discurso (e pelo discurso), que possuiria uma dinâmica própria. No entanto, tendo a pensar que a dureza dos fatos, a resistência da realidade, que nos objeta, com o tempo, se impõe sobre elucubrações, articulações meramente discursivas.

Tenho mantido ao longo de minha trajetória que, apesar dos diversos matizes discursivos, das tendências narrativas existentes, a racionalidade e os dados naturais prevalecem como sustentáculos na busca de um conhecimento aprofundado da realidade (conhecimento humano, falibilista, mas, ainda assim, conhecimento em um sentido forte), atendendo aos anseios humanistas de respeito à liberdade individual, à justiça social e à autonomia do pensamento e da ação.

De uma perspectiva feminista, que eu advogo, o construtivismo dataísta é uma visão equivocada (ou limitada) da prática científica. Além disso, minha recusa a esse construtivismo é reforçada pela concepção ética, segundo a qual a prudência pragmática é um desiderato científico feminista, bem como um recurso preventivo às posturas que podem colocar em descrédito a mesma ciência. Ao ignorar a prudência pragmática, pode-se abrir as portas a uma tendência tecnocrata da chamada Era da pós-verdade, sinônimo, a meu ver, de totalitarismo (de controle e opressão autoritária via domínio de dados) e desrazão.

Se as reflexões precedentes forem aceitáveis, questões epistemológicas e científicas, deveriam incluir considerações sobre suas possíveis consequências pragmáticas. Nesse contexto, destaco um princípio de responsabilidade pragmática caro ao feminismo, que propõe um diálogo colaborativo entre as artes, as ciências humanas e as ciências exatas, biológicas, valorizando ações que minimizem a probabilidade de arrependimento futuro, antes que eles ocorram. Além disso, o reconhecimento do falibilismo e da possibilidade de autoengano deveria estar na base das investigações. O falibilismo, que possibilita o reconhecimento de erros mediante constantes revisões críticas de hipóteses e teorias, tem representado uma das mais significativas oposições ao dogmatismo e ao fanatismo; reconhecer a falibilidade da faculdade de conhecimento, abre espaço para o cultivo do apreço pela tolerância à diversidade.

 

Qual seria no contexto atual a relação entre a ciência e a filosofia?

Dra. Edna Souza - Considero que a 4ª revolução industrial ou a era da informação parece constituir a ponte para se transpor o que separa as “duas culturas”, na acepção de Snow (2015 [1959]). Esta revolução em curso está reduzindo a distância entre cientistas, engenheiros e humanistas que, impulsionados tanto pelas realizações grandiosas como pelos sérios problemas decorrentes dessa ampla transformação científico-tecnológica, social e cultural, precisam pensar juntos sobre elementos comuns que afetam as mais variadas escalas do conhecimento e da vida, principalmente, no atual mundo pandêmico e pós-pandêmico.

Reconheço que a busca pelo ideal de inter/multi e transdisciplinaridade não é algo facilmente praticado, dado que certos problemas demanda um diálogo ético, francamente cooperativo, entre pesquisadores que valorizem diferenças ambientais, biológicas, contextuais e culturais. No entanto, essa dificuldade não é motivo para desânimo e sim para o empenho à abertura cooperativa entre as diversas áreas de saber. Nesse sentindo, acredito que a relação entre a filosofia e a ciência está, positivamente, se estreitando.

 

Quais filósofos contemporâneos você gostaria de destacar enquanto importantes no debate filosófico atual?

Dra. Edna Souza - Considero muitas filósofas e filósofos de grande relevância para a filosofia praticada hoje. Mas, como sua pergunta se restringe à filosofia contemporânea, vou começar destacando uma filósofa iluminista inglesa, Mary Wollstonecraft (1759 – 1797), cujo pensamento é de suma importância para o debate feminista atual. O pensamento de Mary Wollstonecraft marca a elaboração sistemática de uma filosofia, não apenas formal e especulativa, mas de cunho prático, transformador, com a preocupação premente voltada para os problemas de sua época, como o entendimento das raízes da opressão sofrida pela mulher, a fim de permitir a sua libertação. O protofeminismo presente em sua obra, bem como o seu pioneirismo como ativista a favor dos direitos da mulher, a sua militância pelas causas de pessoas oprimidas de seu tempo e a sua colaboração na luta abolicionista, conferiram a Mary Wollstonecraft o reconhecimento de ser a “mãe do feminismo”. Tal perspectiva, como a concebemos hoje, defende a equidade de direitos, alinhando as questões das “diferenças” de gênero, raça e classe social. Em última análise, tais diferenças não representam uma realidade ontológica correspondente ao natural, antes, elas expressam uma relação de dominação culturalmente construída e, portanto, passível de ser superada. A lógica, patriarcal, hegemônica e capitalista procura fixar essas construções sociais como verdades absolutas, inquestionáveis, a fim de “naturalizar” e manter a opressão sobre as ditas minorias sociais que correspondem, de fato, à maioria numérica da espécie humana.

Em sua célebre Reivindicações dos direitos da mulher, Mary Wollstonecraft mostra a contradição do pensamento iluminista assim como do movimento revolucionário francês da época que, embora enaltecessem a razão, apregoassem e militassem por igualdade, liberdade e fraternidade, restringiam na prática, quando não também em teoria, esses direitos a apenas metade da espécie humana: a masculina; ademais, mesmo dentre a parcela masculina da humanidade, se privilegiava alguns em detrimento de outros, por questões de raça e classe, notoriamente, sem qualquer sustentação genuinamente racional para esse proceder.

A argumentação libertária de Mary Wollstonecraft parte da consideração do reconhecimento (pelo menos à época iluminista) de que a humanidade tem como característica fundamental e distintiva a racionalidade, expressa no conhecimento e na virtuosidade dela decorrentes. Dessa forma, ou a natureza estabeleceu grande diferença entre uns e outros membros da chamada espécie humana, ou a civilização teria sido muito parcial, tornando a mulher subserviente ao homem. A causa externa da inferiorização ou menoridade da mulher é identificada na educação[4] e nos costumes aos quais é submetida. Para ela, não pode ser verdadeiramente sábio, responsável, nem virtuoso, o ser que antes não for livre, pois o conhecimento, a responsabilidade e a virtude devem resultar do exercício consciente, autônomo, de sua própria razão. Como a mulher está sempre sob a tutela do homem (como filha, irmã, esposa e mãe), sendo refém do tipo de “decoro” que lhe é imputado e do controle severo ao qual é submetida, ela é impedida de se emancipar, de exercer sua própria razão na busca de interesses sérios, conhecimentos profundos e virtudes maiores. Sua menoridade é um efeito da ignorância na qual é mantida. Assim, as distinções inaturais, preconceituosas, estabelecidas na vida civilizada, é o que excluiria a mulher de uma posição equânime.

As normas sociais, ditadas pelo homem, segundo Mary Wollstonecraft, torna a mulher agradável, mas às custas da virtude. O prestígio dado à delicadeza e à inocência da mulher, por um lado, serve à conveniência e ao prazer do homem, pois a mantém no escuro: bela, graciosa, atraente, frágil, vulnerável, doce e obediente, destinada apenas a satisfazer os sentidos masculinos. Por outro lado, conduz a mulher às “artes do coquetismo” (sedução) e da “astúcia” (dissimulação estratégica) para satisfazer o apetite sexual e a arrogância masculina e, com isso, garantir a própria sobrevivência e/ou realizar o desejo de ter algum tipo de vantagem (como proteção e comodidade) ou poder sobre o homem, mesmo que limitado e temporário. Enfim, a degradação da mulher está em se ter a beleza, gentileza, docilidade e afeto servil como as virtudes fundamentais do sexo feminino e não as virtudes tipicamente humanas. Com efeito, a mulher é tratada mais como fêmea do que como “criatura humana”. É assim que o peso da cultura explica a manutenção de tais circunstâncias degradadoras da condição de mulher.

Resumidamente, eis algumas das conclusões a que Mary Wollstonecraft chega: 1) a mulher não é frágil por natureza, mas degradada por uma série de circunstâncias; 2) a civilização tem sido muito parcial e ao homem se pode imputar injustiça e inconsistência, por tiranamente subjugar a mulher, impedindo o desenvolvimento de sua racionalidade e virtuosidade; 3) uma sociedade melhor, verdadeiramente esclarecida, proporciona a emancipação para a espécie humana como um todo (mulheres e homens); 4) enfim, o desenvolvimento humano e social requer uma “política sã” difusora da liberdade.

Tendo questionado o lugar ocupado pela mulher na sociedade e exposto as razões pelas quais a educação feminina é inadequada e fomentadora de sua degradação, Mary Wollstonecraft apresenta uma proposta de sistema educacional obrigatório, misto, igualitário e público, repensando a educação como um todo, da educação informal à formal, para meninas e meninos, da infância à juventude e para pobres e ricos. Sistema esse em que não se confunde virtude com reputação ou prestígio, de modo que a preocupação não seja com a aparência e sim com o desenvolvimento do caráter. Aliás, a busca por reputação e prestígio, comumente, vai de encontro aos deveres morais. A educação e os costumes da mulher primando pela virtude, propriamente dita, deixa de superelevar a questão da beleza e delicadeza artificial da mesma, a fim de atrair e agradar o homem, causa da dissimulação ou “astúcia feminina”, como já fora mencionado. Além disso, o duplo padrão moral burguês revela-se escandalosamente desarrazoado. À mulher não cabe como única virtude a castidade, capaz de aquilatar sua moral, de modo que a possuindo possa ignorar outros deveres morais e não sendo mais casta seja desonrada, privada de todo caráter. Em que pese a preocupação com a reputação relativa à castidade (significado de honradez feminina) ser crucial para a mulher, ela é nula para o homem. Em ambos os casos – de sobra e falta dessa preocupação com a castidade –, o resultado é nocivo à própria moralidade, pois torna o homem um carrasco e a mulher uma dissimulada.

Se o exemplo acima de aplicação da dupla moral soar algo muito antigo, lembre-se que há pouco mais de vinte anos, ao homem era facultado anular o casamento em caso de “falta de virgindade” da nubente. Casos de aplicação desse direito, descritos em processos judiciais, revelam o horror e trauma a que a mulher era obrigada a passar[5]. Há cinco anos, assédio sexual tornou-se crime pela legislação brasileira, mas, no caso de denúncia formal em Delegacias e afins, o tratamento de mulheres vítimas dessa e de outras violências, comumente, é descrito como não menos desumano, passando de vítimas às provocadoras do “inconveniente”. Essa é a expressão da resistência em se mudar as estruturas de poder fortemente estabelecidas em nossa sociedade, que degrada a mulher. Por isso, considero a crítica social elaborada por Mary Wollstonecraft, bem como o prospecto positivo de que essa infeliz realidade, enquanto uma construção social, pode ser mudada para melhor, de suma importância para o debate feminista atual, inclusive, aqui no Brasil.

É impressionante como um argumento do século XVIII, em contexto tão distante, pode ser tão bem empregado hodiernamente no Brasil. A propósito, gostaria de destacar também grandes filósofas brasileiras, cujas obras são contributos indeléveis para o debate da filosofia na atualidade. Além de suas contribuições para o feminismo em geral, a reflexão de tais pensadoras nos permite entender melhor a nossa própria identidade brasileira e a repensar problemas que nos assolam desde a tomada e a ocupação deste território por outros povos que não os originários. São elas: Nísia Floresta (1810-1885), atualmente, identificada como a primeira feminista brasileira, defensora dos direitos das mulheres, dos povos originários e dos escravos, e ativista das campanhas abolicionista e republicana; Lélia Gonzalez (1935-1994), uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU); Sueli Carneiro (1950 - ), referência do feminismo negro brasileiro. Essas mulheres, dentre outras, têm muito a nos dizer dos limites de nossa democracia e das dificuldades enfrentadas pelas iniciativas e movimentos sociais brasileiros. Se a emancipação da mulher começa pelo acesso à educação e pela inclusão na vida pública, então, temos muito ainda que lutar, pois se não há mais impedimento legal para tal, há um impedimento estrutural, em que a opressão vem disfarçada. A falsa narrativa de que os mesmos direitos são reservados a todas e todos é um mecanismo utilizado para manter a estrutura opressora funcionando regularmente. Como minhas indicações acima, por si só, já revelam, o feminismo negro parece se destacar no Brasil – algo que considero maravilhoso. É importante também não nos esquecermos de que a nossa origem é vermelha, preta e branca, e que não só essa raiz comum nos une, mas também o fato de estarmos todas sujeitas ao preconceito e à violência. Que possamos unir nossas diversas e diferentes experiências e reflexões em prol da equidade!

 

Um dos filósofos que inaugura a modernidade no contexto da atualidade é Renè Descartes. Poderia nos falar sobre ele?

Dra. Edna Souza - Sim. Como você mesmo disse, Descartes “inaugura a modernidade”, ou seja, sua proposta racionalista está na base da formação da ciência e filosofia modernas que conhecemos e que são praticadas ainda hoje. Afinal, em muitos sentidos e a despeito das ditas filosofias pós-modernas contemporâneas, ainda somos modernos. Esse tema é amplamente conhecido nos círculos filosóficos e mesmo fora deles, dada a relevância de tal pensador para a história do pensamento. Mas, agora, eu gostaria de abordar um outro Descartes, não tão conhecido: aquele que mantém correspondência intelectual constante e profícua com pensadoras de sua época, as quais, embora invisibilizadas ao longo da história, estão muito presentes na gênese e no desenvolvimento do pensamento cartesiano. Falo de Sofia de Hannover, Cristina da Suécia e, mais especialmente, de Elisabeth da Boêmia.

De acordo com a filósofa portuguesa Maria Luisa Ribeiro Ferreira, “devemos a certas mulheres uma melhor compreensão do pensamento cartesiano” e, ainda, devido as suas interposições “o cartesianismo reconquista o corpo, estabelecendo-se definitivamente uma ponte entre o homem que pensa, o homem que padece e o homem que age” (FERREIRA, 1998, p. 141;155). Então, é sobre esse cartesianismo “mais inteiro” que meu interesse se volta na atualidade.

Um escrutínio das correspondências trocadas entre Descartes e as pensadoras acima mencionadas revela que ele não apenas considerava seriamente a maneira de mulheres levantar questões filosóficas como teve que rever muito de seu pensamento a partir das objeções levantadas por suas interlocutoras. O modo próprio, pragmático, pelo qual as mulheres praticavam (e praticam) a filosofia pode ser até mesmo considerado diferente do modo racionalista proposto pelo filósofo, mas não por uma incapacidade filosófica de se enveredar por tal caminho, mas pela discordância de que essa seria a opção mais adequada para tratar de problemáticas que lhe são caras. Com efeito, essa afirmação é sustentada pelo teor das correspondências trocadas entre eles. Tais pensadoras levaram Descartes a repensar conceitos fundamentais, reformular teses basilares, direcionar seu interesse para a relação corpo/alma (apesar de inicialmente ele ter secundarizado, se não negligenciado, o corpo, a imaginação, a paixão e a sensibilidade) e a procurar diluir dicotomias em sua obra. Uma mulher não esquece o corpo: ponto nevrálgico da condição feminina. Assim, podemos ver a insistência de Elisabeth da Boêmia em fazer Descartes rever o dualismo substancial mente/corpo. Na obra As Paixões da Alma temos uma verdadeira síntese resultante das discussões epistolares que eles travaram ao longo de anos.

 

Quais são seus futuros planos de pesquisa na área filosófica?

Dra. Edna Souza - Tenho alguns projetos de curto, médio e longo prazos que, apesar de suas especificidades, dialogam entre si, pois trazem como eixo central o anseio feminista por equidade de gêneros, classes, raças e etnias. Pretendo: investigar filosofias feministas, especialmente, as abordagens feministas da ciência[6] e da linguagem, e o ecofeminismo; pesquisar sobre a produção intelectual da mulher e o pensamento feminista brasileiro; estudar a respeito da presença da mulher (e da imagem de mulher) na filosofia, repensando a história da filosofia, a partir dessa temática. Em um esforço acadêmico conjunto, interdisciplinar, espero desenvolver trabalhos críticos (próprios da filosofia) ao articular saberes e práticas sobre a chamada virada linguístico-pragmática na filosofia. Entendo que as considerações pragmáticas sobre a linguagem, culminando com a perspectiva ilocucionária, cujo enfoque é o ato de fala, ou seja, a função da linguagem que implica ou demanda um comportamento, um uso e um valor contextuais, parece lançar luz sobre problemas como o da socialização de gênero. Daí a proposta do desenvolvimento de uma teoria do uso linguístico combinada a uma abordagem crítica da sociedade, em que a linguagem está situada, bem como de uma perspectiva da ideologia, que explique as distorções e manipulações no uso da linguagem, a partir das formas de dominação reproduzidas e justificadas na sociedade. Essa abordagem, ao contrário da Semântica tradicional, parece mais adequada para estabelecer um diálogo horizontal entre diversas perspectivas contemporâneas da filosofia, sociologia, linguística, dentre outras, de modo a acomodar grandes questões da atualidade, como o papel dos diversos saberes/ciências/tecnologias/linguagens frente à crise ambiental e social em avanço. Além disso, começo a organizar um projeto de extensão “A mulher e seu corpo: da filosofia à dança”, em que reflexão e ação somam no empoderamento da mulher.

Enfim, há muito trabalho a ser feito na área dos estudos feministas e de gênero, sobretudo, no Brasil, onde há tantos problemas e ainda poucas abordagens do assunto.

 

Referências

CARNEIRO, Sueli. Escritos de uma vida. Prefácio de Conceição Evaristo. Apresentação de Djamila Ribeiro. São Paulo: Pólen Livros, 2019.

DESCARTES, Renè. Discurso do método. Meditações. Objeções e respostas. As paixões da alma. Cartas. In: Descartes: obra escolhida. Introdução de Gilles-Gaston Granger; prefácio e notas de Gérard Lebrun; tradução de J. Guinsburg e Bento Prado Junior. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.

DESCARTES, Renè. Correspondance avec Elisabeth et autres lettres. Paris: Flammarion, 1989, 314p.

FERREIRA, Maria Luisa Ribeiro. (Org.) O que os filósofos pensam sobre as mulheres, Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 1998.

FLORESTA, Nísia. Textos selecionados. In: DUARTE, Constância Lima. Nísia Floresta. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Massangana, 2010. 168 p. (Coleção Educadores)

FLORIDI, Luciano. A Plea for Non-naturalism as Constructionism. Minds & Machines (2017) 27:269–285.

GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: Ensaios, intervenções e diálogos. Organização de Flavia Rios e Márcia Lima. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.

LAGO, Mario; ALVES, Ataulfo. Ai, que saudade da Amélia. Faixa 14. In: Mário Lago - CD 90 anos. Composição de LAGO, Mario; ALVES, Ataulfo. São Paulo: Revivendo, 2001. Disponível em: https://immub.org/album/mario-lago-90-anos

PUTNAM, Hilary. Mathematics, Matter, and Method. Cambridge: Cambridge University Press, 1975a. (Philosophical Papers, v. 1).

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emilio, ou Da educação de). Tradução de Sérgio Milliet. São Paulo, Rio de Janeiro: DIFEL, 1979.

SAITO, Lígia. Mulher precisa provar virgindade para não ter casamento anulado. In: Poder Judiciário de Mato Grosso. Comunicação. Notícias. 08.05.2019. Disponível em: https://www.tjmt.jus.br/noticias/56189#.Y_u1dHbMLIU

SNOW, Charles Percy (1995). As Duas Culturas e uma Segunda Leitura. Tradução de Geraldo Gerson de Souza, Renato de Azevedo Rezende Neto. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2015.

SOUZA, Edna Alves de; QUILICI-GONZALEZ, José Artur, GONZALEZ, Maria Eunice. Big Data in Contemporary Science: Methodological and Ethical Implications for Everyday Life. The GCAS Review Journal Vol. I, Issue 2/2021. Available online at https://www.gcasreview.com/publications-technology-and-society

WOLLSTONECRAFT, Mary (1792). Reivindicações dos direitos da mulher. Tradução de Ivania Pocinho Motta. São Paulo: Boitempo Editorial, 2016.

 

 


[1] Ai que saudades da Amélia, canção de Mario Lago e Ataulfo Alves. O nome Amélia significa ‘trabalhadora’, ‘mulher zelosa’. A canção trata-se de um desabado do homem frente aos desejos e exigências da mulher atual que se recusa a encaixar no padrão de Amélia: a mulher que era submissa, que não reclamava de nada e estava sempre à disposição do marido para apoiá-lo incondicionalmente.

[2] O novo construtivismo traz como marca sua centralidade no dataísmo, perspectiva assim nomeada devido à reverência prestada aos dados no atual contexto de Big Data.

[3] No artigo Big Data in Contemporary Science: Methodological and Ethical Implications for Everyday Life (disponível em: https://www.gcasreview.com/publications-technology-and-society), apresento, com meus colaboradores, dentre outras coisas, uma tipologia dos dados, argumentando que no entendimento da polissemia do termo ‘dado’ pode estar a chave de esclarecimento do estado atual da ciência no que diz respeito ao seu uso crescente de técnicas de análise de Big Data.

[4] Mary Wollstonecraft rebate, exemplarmente, os argumentos contidos em Emilio, ou Da educação de Jean-Jacques Rousseau.

[6] A propósito, estou finalizando um artigo intitulado “Sobre fatos e valores: uma reflexão epistemológica feminista” que espero publicar em breve. Nele, analiso a tese da imbricação entre fatos e valores e abordo aspectos diferenciais entre a epistemologia tradicional e a feminista no que concerne ao entendimento do papel que os valores desempenham no modo de efetivação da ciência.